quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

É verdade que usamos apenas 10% do cérebro?

Inaugurando o espaço de psicologia dentro deste blog!

Começo com uma afirmação que, vez por outra, quando digo que estudo estudei sou um curioso e interessado em psicologia, surge na conversa (com certeza, há outras afirmações mais frequentes, mas quero começar este espaço com esta afirmação): nós só usamos 10% do nosso cérebro.

E eu me pergunto de onde veio esse número redondo... Afinal, se isso é verdade (eu ainda não estou dizendo que é verdade nem que não é, apenas comecei a conversa!), então por que só 10%, em vez de 15% ou 50% ou 12,34567890%?
E mais: de onde veio essa estória? Isto é verdadeiro, ou é mito? Ou, se parte é verdade e parte é mito, qual é qual?

Vou confessar: eu já pensei que essa afirmação fosse verdade #prontoFalei. Só que, quando eu comecei meu curso de psicologia, uma das primeiras afirmações que foram demonstradas como mito foi esta. Ou seja, a afirmação de que só usamos 10% do cérebro é mito #prontoFaleiDeNovo.



Mas de onde vem este mito? Vem de uma crença popular, difundida em e por muitos filmes e livros. A crença popular é que os seres humanos têm uma reserva de energias ou de poderes psíquicos, e só teríamos acesso a essas energias e esses poderes por meio de técnicas esotéricas, somente acessíveis a alguns iniciados.
Mas o que aconteceu realmente foi um mal-entendido ou uma má compreensão das descobertas de neurologistas e neurocientistas no fim do século XIX e início do século XX (Sigmund Freud era estudante de neurologia naquele tempo, e teria seguido esse caminho se não tivesse conhecido o fenômeno histérico e o Dr. Charcot... mas esta é outra história). Segundo essas descobertas, o fato é que a quantidade de neurônios no cérebro é muito inferior à quantidade de células cerebrais (por volta de 10 porcento das células cerebrais são neurônios, os demais são outros tipos de células). No fim do século XIX e início do século XX, o dr. Freud começou a estudar de forma mais aprofundada os fenômenos inconscientes, chamando-os de Inconsciente (com I maiúsculo). Junte essas duas informações, mais uma pitada de imaginação fértil e temos a receita do mito.

Mas como podemos refutar esse mito?
Uma das formas é com tecnologia. Várias experiências foram feitas com pessoas passando por exames cerebrais de imagem (tomografia computadorizada, ressonância magnética etc.), e em todas elas foi demonstrado que a pessoa dona do cérebro examinado estava utilizando completamente a capacidade cerebral, umas áreas com maior, outras com menor intensidade, mas não houve nenhuma área "desligada".
Além disso, o cérebro humano já foi mapeado (contribuições dos doutores Penfield, Brodmann, Broca e companhia limitada), e ele é todo compartimentado, com áreas cerebrais responsáveis por tal e qual função. Existem áreas que lidam com a respiração, com o movimento de cada braço, de cada perna, com os olhos, com as sensações em cada local do corpo, com a memória, com a linguagem, o pensamento, os hormônios etc. (Sim, aquilo também.) "Nós falamos com o hemisfério esquerdo", disse o dr. Paul Broca, certa vez. Um dano em um determinado local do cérebro, e uma capacidade do corpo humano se perde, se a pessoa não passar por reabilitação.

 

Paul Broca, Korbinian Brodmann e Wilder Penfield. Muito do que sabemos da anatomia do cérebro é graças a eles.

Concluindo, usamos sim, mais de 10 por cento do cérebro. Usamos, na verdade, CEM POR CENTO do nosso cérebro, mesmo quando esquecemos a chave de casa em casa ou não nos lembramos da prova no dia seguinte.

Referências:
SIMANKE, Richard Theisen  and  CAROPRESO, Fátima. A metáfora psicológica de Sigmund Freudneurologia, psicologia e metapsicologia na fundamentação da psicanálise. Sci. stud. [online]. 2011, vol.9, n.1, pp. 51-78. ISSN 1678-3166. 
Mito do uso de 10% do cérebro. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_do_uso_de_10%25_do_c%C3%A9rebro e visualizado em 29 de janeiro de 2015.
Cérebro Humano. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rebro_humano e visualizado em 29 de janeiro de 2015.
Paul Broca. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Broca e visualizado em 29 de janeiro de 2015.
Korbinian Brodmann. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Korbinian_Brodmann e visualizado em 29 de janeiro de 2015.
Wilder Penfield. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Wilder_Penfield e visualizado em 29 de janeiro de 2015.

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