sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Percepção visual e ilusões de ótica (ou: branco gelo)

Continuando nossos posts de psicologia, desta vez gostaria de falar um pouquinho a respeito de percepção visual.
Uma coisa é fato: percebemos as coisas com nossa visão de forma bem parecida. Os olhos captam as cores, o formato, as dimensões do objeto ou pessoa que estamos vendo no momento, tudo isto é transformado em impulsos nervosos em nossas retinas, esses impulsos são conduzidos ao cérebro pelo nervo ótico, e é no cérebro (mais especificamente, no córtex visual) que decodificamos os impulsos nervosos e reconhecemos que é uma garrafa de água, com tampa amarela, que está em cima de uma mesa.
A diferença está nos detalhes: uns têm mais cones (células especializadas em captar cores) ou bastonetes (células especializadas em captar preto, branco e 50 30 tons de cinza) que outros, uns não conseguem perceber a diferença entre vermelho e verde, outros não conseguem ver nada porque sofreram descolamento de retina ou rompimento do nervo ótico ou um AVC que afetou o córtex visual...
Mas vamos tomar um exemplo típico, uma pessoa que consegue ver as coisas normalmente (discutirmos o conceito de normal daria milhares de posts, mas estou me referindo ao normal do ponto de vista estatístico e não patológico). 
E se eu dissesse a você que o nosso cérebro, de vez em quando, nos prega peças? É o que costumamos chamar, popularmente, de ilusão de ótica.
Mas, por quê isto acontece? Acontece porque, no decorrer das nossas vidas, desde bebês, somos ensinados a respeito das coisas do mundo. (Valei-me, são Piaget!) Aprendemos que um cachorro tem tais e tais características, que são diferentes de um cavalo, de uma iguana e de uma escada. Por sua vez, existem cachorros maiores, menores, com cabeça mais comprida ou mais curta, com pernas compridas ou curtas, com pelo maior ou menor, mas colocamos essas imagens mentais juntas em uma mesma categoria: cachorro. A estes processos mentais, um biólogo chamado Piaget chamou de esquemas e processos de acomodação e assimilação.
Ou seja, no decorrer da nossa vida nós construímos esquemas a respeito das coisas do mundo e desenvolvemos processos de acomodação e assimilação.
Como funciona a ilusão de ótica? Segundo este princípio, a gente pode pensar em algo como um estímulo visual que confundimos com um esquema previamente gravado em nossa mente. (Isto NÃO É a explicação exata, é APENAS uma tentativa de explicação - novamente, outro processo de construção de um esquema, uma assimilação).
E como funcionam essas ilusões de ótica? Elas podem ser uma confusão na percepção de claro e escuro, na percepção de cores, de tonalidades...
Aqui tem alguns exemplos:



Uma imagem que mostra, ao mesmo tempo, Miguel de Cervantes e Dom Quixote.
No início do século XX, alguns psicólogos passaram a estudar a percepção em seu sentido mais geral (não se limitando à percepção visual), construindo um tema de pesquisa chamado Teoria da Gestalt (pronuncie guestalt, g de gato). Eles estudavam a questão da figura e fundo, o completamento e outros fenômenos perceptivos.


A capa do álbum The Division Bell, da banda inglesa Pink Floyd. Neste caso, são dois rostos, um de frente para o outro, que formam uma só imagem.

E aqui?


Qual a cor do vestido: azul e preto, ou branco e dourado? Esta imagem correu o mundo esta semana. Aqui, a questão é como percebemos a luz. Esta foto foi analisada com um programa editor de imagem, e a conclusão: é azul e preto mesmo.

E aqui?


Aqui você tem um tabuleiro de xadrez (ou damas, sei lá) em que o quadradinho A é mais escuro que o quadradinho B... ou não?

E eu tenho uma ilusão de ótica parecida com esta na minha própria casa!


Para quem não está conseguindo ver o vídeo, por uma razão ou outra, eu digo: uma parte do banheiro da minha casa foi pintada de branco gelo. Acontece que há partes de cor branco gelo que parecem mais claras que outras, pintadas da mesma cor. A explicação? Pode ser questão de iluminação do ambiente, pode ser como nós mesmos percebemos a iluminação, pode ser... sei lá!
E pra terminar, um aviso: somente os puros de coração conseguem perceber os golfinhos.


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